segunda-feira, 9 de julho de 2012

Consagração Precipitada


Por Pr. Luis Carlos


"A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro"(1 Timoteo 5.22). 

“... imponhas precipitadamente as mãos...” Isso nada tem haver com a violência, como se , iracundo, alguém viesse a atacar a outrem com as próprias mãos, conforme o fraseado literal poderia dar a entender. Antes, está em foco a “imposição de mãos”, por ocasião da consagração. É como se o autor sagrado tivesse dito: “Não te apresses a ordenar ancião ou pastores. Pois, se te mostrares precipitado, consagrarás a homens errados, e não demorarás a ter dificuldades com eles. Se porventura te mostrares apressado em consagrar líderes cristãos, e se porventura se tornarem pessoas pecaminosas e instáveis, isso trará opróbrio para o nome da igreja, e serás participante dos seus pecados. Em tua impaciência, tê-los-ás lançado sobre a igreja, sem exigires que fossem homens testados e aprovados”.

O autor sagrado havia advertido contra o arrolamento de “viúvas jovens” na lista das viúvas sustentadas pela igreja, visto que facilmente poderiam provocar escândalos. (Ver I Timóteo 5:11 e ss). Agora ele proíbe a consagração precipitada de pastores, a fim de que também não viessem a produzir escândalos. Uma vez mais, o autor sagrado está escrevendo com base em suas observações, e não meramente como conselho ou advertência. Vários já eram os anciãos que causavam tribulações, pois alguns deles eram, obviamente, indivíduos perversos e pecaminosos. O autor sagrado raciocina que o cuidado certo, exercido na escolha e na consagração de líderes cristãos, teria impedido que tais indivíduos guindassem a posições oficiais. Notemos que, em I Tim. 3:7, o autor sagrado exige que os supervisores contassem com bom testemunho, até mesmo da parte dos “de fora”, isto é, dos incrédulos, além do que não deveriam ser novos convertidos. (Ver o sexto versículo do terceiro capítulo desta epístola). Evidentemente, tais regras não tinham sido seguidas de perto, havendo então o desastre espiritual. (Ver as notas expositivas acerca da “imposição de mãos”, em I Tim. 4:14).
Alguns intérpretes têm pensado que a “imposição de mãos”, neste caso, refere-se à “restauração de penitentes” à comunhão cristã, e não à consagração de pastores. Há, realmente, evidências que a imposição de mãos acompanhava essa restauração, que se tornou uma espécie de cerimônia formal. (Ver Cipriano, Epístola Ixxiv.12; Eusébio, História Eclesiástica, vii.2; Constituições Apostólicas ii.18 e o cânon oitavo do concílio de Nicéia. O ensinamento desta passagem, pois, seria que um ancião que caíra em pecado e fora excluído, não deveria ser apressadamente restaurado. Deveria ser primeiramente provado, dando boa evidência de arrependimento, ficando restabelecida a sua reputação de piedade. Os argumentos em favor dessa interpretação são os seguintes:
1. O texto aborda a questão da disciplina, e não a questão da consagração. O problema não seria meramente teórico. Os anciãos teriam de ser afastados de seu ofício, e assim estava sucedendo, pelo que seria criada a necessidade de saber como tratar com os tais, quando se “arrependessem”.
2. Essas palavras são dirigidas a Timóteo, tendo sido demonstrado que a consagração é por parte do presbítero (I Tim. 4:14), e não por parte de um homem.


Mas contra esses argumentos poderíamos aduzir o seguinte:
1. Apesar da disciplina estar em vista, ainda assim, para ser evitada a necessidade de disciplina, é recomendado que não haja consagrações descuidadas e apressadas.
2. Apesar de que o presbitério consagra, assim pode fazê-lo o supervisor, ou então o supervisor em companhia dos anciãos, tal como sobre o próprio Timóteo é dito que tanto Paulo como os presbitérios lhes impuseram as mãos, quando de sua consagração. (Ver I Tim. 4:14 e II Tim. 1:6).
Não sabemos dizer se a cerimônia de “imposição de mãos” já era praticada quando da escrita das epístolas pastorais. Facilmente pode ter sido costume surgido mais tarde. Seja como for, é necessária essa ordem, como ambas as aplicações. Não deve haver consagrações apressadas, e nem deve haver restaurações precipitadas de um líder que tenha errado, estando em seu ofício. É mister que este prove primeiro a sua sinceridade. O autor deste comentário conhece um pastor que foi envolvido em um caso de adultério com uma das mulheres de sua igreja. Quando isso veio a lume, em seu julgamento, na igreja, ele confessou e se “arrependeu”. Mas um dos anciãos disse: “Que aquele que estiver sem pecado, seja o primeiro a lançar-lhe pedra”. O resultado é que não houve qualquer disciplina, e a igreja votou para que fosse ele conservado como pastor, sem qualquer intervalo. Sem dúvida isso foi um erro. Todo homem assim deveria mostrar que realmente está vivendo na piedade, antes de ser restaurado; de outro modo, toda a idéia de disciplina é motivo de zombarias. Que homem não dirá: “Eu me arrependo!”, sobretudo se houver pressão, sem importar se houve mudança no coração ou não? É mister que, nessas condições, um homem mostre que houve mudança de coração, e isso exigirá um pouquinho de tempo, um período de provação.
Não se torne cúmplice. No grego é. Koinoneo, que significa compartilhar, participar. Somente encorajamos os homens a pecarem mais, quando não tomamos uma atitude severa bastante contra o pecado. Participamos de pecados ao consagrarmos como ministros homens que não está qualificado, que são personalidades instáveis, que podem ceder sob as pressões do oficio; e pecamos quando não exigimos que os homens dêem provas de sinceridade, antes de restaurá-los ao oficio, porquanto, assim fazendo, teremos tolerado seus pecados anteriores, que foram deixados sema devida disciplina, e os encorajamos a continuarem nos mesmos.
Conserva-te a ti mesmo puro. Muito já foi, nesta epistola, acerca da necessidade de um ministro ter vida pura e a consciência boa, que não acuse de qualquer infração contra a santa doutrina de Cristo. (ver os trechos referidos, onde há notas expositivas abundantes sobre a questão: 1 Tim 1:19; 2:1; 3:2,7,9 e 5:2). Não há como exagerar a necessidade de santificação, na vida de um verdadeiro ministro, porquanto ele é representante de Cristo na igreja. Outras pessoas estão julgando a Cristo e ao cristianismo pelo que vêem nele. (ver notas expositivas completas sobre a santificação em 1 Tes. 4:3. Sim, sem santidade, ninguém jamais Verá a Deus (ver Heb. 12:14). Pois, sem santificação, ninguém realmente se converteu, já que a santificação aperfeiçoa a conversão, levando o crente à glorificação; e todos esses passos, juntamente, formam a salvação (ver II Tes. 2:13 quanto ao fato que não pode haver salvação sem santificação, nas notas expositivas ali existentes)).
Puro. No grego é agnos. A principio, esse termo significa respeito, vinculado á adoração de Deus ou dos deuses; daí a alusão passou para os sacrifícios, oferecidos a Deus ou aos deuses. Daí veio a indicar algo separado para Deus ou para os deuses a fim de ser oferecido em sacrifício. Além disso, aquilo que é separado para Deus deve ser puro, santo, sem mácula. E esse é o sentido em que devemos pensar aqui, sem nos importarmos com a história desse vocábulo. O ministro de Cristo pois, é alguém que se deve ter respeito especial por Deus e pelo seu serviço. Quem é separado do mundo, para Deus? Aquele que é pessoalmente puro, sem mácula, tal como se esperava que fossem os sacrifícios cruentos. Não pode ser homem dominado por vicio algum. Pois, sendo homem viciado, estaria desqualificado para o ministério. Nele, acima de todas as pessoas na igreja a beleza da santidade de Cristo deveria ser visível. Deve ser homem que avança em sua transformação moral segundo a imagem de Cristo, porque disso é que consiste a salvação, já que a imagem de Cristo está sendo implantada nele. Ora, essa transformação moral produz a transformação metafísica, mediante o que passamos a participar da mesma natureza de Cristo (ver Rom. 8:29). Se um ministro não é esse tipo de pessoa, que participe dessas grandes realidades, não tem o direito de estar no ministério. Esse é o claríssimo ensinamento do N.T. (Comparar com I Tim. 6:14, onde aparece uma determinação similar. Quanto á expressão Conserva-te a ti mesmo. Comparar com Tiago 1 :27 e II Cor. 11:9). Cumpre-nos observar o particípio presente, na expressão original, que resultaria em continua-te conservando puro a ti mesmo. No caso do pastor, que consagra a outros, o conserva-se puro deve ser algo, antes de tudo, pessoal mas também deve envolver o que se relaciona a não participação nos pecados alheios, através de consagração apressada ou restauração precipitada de ministros depostos.

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