Por Vera Siqueira
Vamos
somar o que foi dito:
Nosso agradecimento a todos que participaram, do Movimento pela Ética Evangélica Brasileira e da Intervenção na Marcha. Que Deus abençoe a todos, e que Ele cresça e nós diminuamos.
Este
é o quarto ano em que o Movimento pela Ética Evangélica Brasileira participa da
Marcha para Jesus em São Paulo. Nesses anos, vimos as mesmas coisas e sofremos
agressões verbais, físicas e até tivemos material roubado, e esses relatos estão
nos arquivos deste blog.
Desta
vez, como sempre, nada mudou. Os mesmos líderes, as mesmas promessas vãs, o
mesmo triunfalismo, a mesma alienação espiritual por parte de muitos ali
presentes. O mesmo carnaval gospel.
Quem
quiser saber como foi nossa participação na Marcha, é só assistir ao vídeo no
final deste texto. Por ora, gostaria de refletir sobre como poderia ser a Marcha
para Jesus.
Para começo de conversa, por que precisa ser uma Marcha, uma procissão gospel? Qual o sentido de levar uma multidão para caminhar pela Av. Tiradentes, em São Paulo? Quem conhece a região e quem participou da Marcha sabe que, nesse dia, não há uma viva alma andando por ali, que possa assistir ao evento. O trânsito é fechado, o comércio da região também. Não se vê pessoas nas janelas dos prédios, até por falta deles. Enfim, só quem vê que está acontecendo uma Marcha são os que efetivamente estão participando dela. Se a intenção da Marcha, segundo seus organizadores e participantes, é a de evangelizar, esqueceram de pensar num lugar onde efetivamente haja pessoas a serem evangelizadas ou ajudadas. Sugiro, numa próxima edição, que a Marcha em São Paulo ocorra na região da Cracolândia, na Baixada do Glicério, ou pelas ruas de algum bairro da periferia, com o fim de que pessoas possam ser realmente alcançadas.
Para começo de conversa, por que precisa ser uma Marcha, uma procissão gospel? Qual o sentido de levar uma multidão para caminhar pela Av. Tiradentes, em São Paulo? Quem conhece a região e quem participou da Marcha sabe que, nesse dia, não há uma viva alma andando por ali, que possa assistir ao evento. O trânsito é fechado, o comércio da região também. Não se vê pessoas nas janelas dos prédios, até por falta deles. Enfim, só quem vê que está acontecendo uma Marcha são os que efetivamente estão participando dela. Se a intenção da Marcha, segundo seus organizadores e participantes, é a de evangelizar, esqueceram de pensar num lugar onde efetivamente haja pessoas a serem evangelizadas ou ajudadas. Sugiro, numa próxima edição, que a Marcha em São Paulo ocorra na região da Cracolândia, na Baixada do Glicério, ou pelas ruas de algum bairro da periferia, com o fim de que pessoas possam ser realmente alcançadas.
A não ser que a intenção da Marcha não seja encontrar pessoas a serem
evangelizadas e ajudadas, mas apenas demonstrar o poder dos evangélicos pela
quantidade de participantes. Nesse caso, esqueçam o que sugeri, pois dará menos
“ibope”.
Outra
questão a ser repensada é a definição de louvor, presente na Marcha. Os que lá
estão querem louvar a quem? A Jesus? Aos seus líderes eclesiásticos? Aos
artistas gospel presentes? Isso é muito importante, pois impactará na forma de
adoração.
Se
a intenção, como se diz, é a de louvar a Deus, devemos ter em mente que as
músicas devem nos levar ao Sagrado e à reflexão de nossa conduta em relação a
Ele. Devemos enaltecê-Lo por quem Ele é, não buscar nas canções conforto para
nossa situação. Devemos nos colocar em posição de arrependimento e respeito.
Porém, como buscar tudo isso, em meio a letras que nos enaltecem como
filhos-do-rei-que-tudo-venceram-e-tudo-podem-nessa-vida? Como matar a carne, se
os ritmos nos remetem a danças sensuais? Tente “descer até o chão” com uma
valsa, por exemplo. Não haverá vontade para isso. Agora, coloque um funk ou um
axé que automaticamente o corpo fará os movimentos apropriados, pois o corpo tem
uma memória que nos leva a repetir os movimentos que estão associados a cada
ritmo.
Usar
de Davi para justificar danças extravagantes é tirar uma passagem do seu
contexto. Na igreja primitiva não havia danças, e nem havia clima para isso, já
que aqueles cristãos estavam bastante ocupados servindo uns aos outros, adorando
a Deus e orando por conta da perseguição que sofriam. O “mundo” persegue os que
lhe fazem oposição. Se o “mundo” não está perseguindo a igreja brasileira, isso
também é algo a se pensar, e nossa associação com o “mundo” (inclusive adotando
seus ritmos e danças, fama e sucesso, entre outras coisas) se reflete no que
transformamos a Marcha dita para Jesus: num verdadeiro carnaval fora de época,
onde tudo é possível, contanto que as letras da música remetam a Deus ou aos
crentes, e onde muitos fazem carreira e dinheiro como “levitas”, sendo na
verdade astros ou estrelas da música gospel, inclusive tendo direito a fãs e a
todo o glamour que o “mundo” reserva aos artistas seculares. Alguns astros
gospel, inclusive, hoje já trabalham em gravadoras e na mídia do “mundo”, e
acham isso bom.
Minha
sugestão: se a intenção é louvar a Deus, que sejam abolidas, na Marcha, as
canções com foco no crente, em sua provisão, em sua vitória. No lugar, canções
que remetam ao conhecimento de Deus e à nossa gratidão por Ele ter nos amado
primeiro. E nada de ritmos que remetam à carnalidade, afinal não estamos na
Marcha para agradar aos desejos do nosso corpo.
Como cristãos, nosso corpo está morto e somos novas
criaturas em Cristo. A alegria do cristão não se manifesta na catarse musical e
rítmica, como ocorre com quem não conhece a Jesus. A alegria do cristão se
manifesta a todo o momento, em todo o lugar, inclusive nas celas das prisões e
nos instantes de martírios terríveis. Essa é a verdadeira alegria, não a
aparente, fabricada pela ingestão de drogas ou de músicas que nos levam ao
delírio coletivo, como ocorre nas micaretas e raves do mundo secular.
Se
a Marcha é para Jesus, deve seguir Seus ensinos. Um deles, e dos mais
importantes (pois repetido em várias passagens, em algumas através de exemplos
bem práticos) é que devemos servir uns aos outros, e que o maior deve servir ao
menor. Assim, não há cabimento em ter autoridades eclesiásticas em cima de
trios-elétricos, enquanto as multidões estão no chão. Pior ainda se pensarmos
que, na multidão, há pessoas com deficiências físicas, idosos e pessoas com
crianças de colo.
Como
alguém acha que Jesus andaria nessa Marcha? E por que os líderes gospel não
andam como Ele? A não ser que a Marcha não seja para Jesus, mas para alimentar
egos humanos, é preciso que os líderes deixem seus pedestais e se mostrem iguais
ao povo que arrebanham. O pastor tem cheiro de ovelha não por comprar tal aroma
na perfumaria, mas por viver rodeado pelo rebanho.
Outra coisa altamente incômoda na Marcha é o comércio
ali presente, onde se vende os nomes “Jesus”, “Deus é fiel”, “Eyshila”,
“Fernanda Brum”, “Thalles”, “Cassiane”, “Mariana Valadão”, ao gosto do freguês.
Ora, qual a necessidade de tudo isso?
É
bastante desagradável ver um jovem com uma faixa ou bandana com o nome do
artista gospel de sua preferência, pois isso remete ao fanatismo (por isso a
palavra fã) dos que, no “mundo”, seguem seus ídolos humanos famosos. Por isso,
para uma Marcha efetivamente para Jesus, é necessário nos desprendermos da
veneração dos artistas gospel, pois em Cristo eles são exatamente iguaizinhos a
nós: pessoas falhas, dependentes de Deus, e que carecem de Cristo, sem O qual
perecerão eternamente. Para acabar com a “deusificação” dos artistas gospel,
numa Marcha realmente de Jesus eles não estariam inalcançáveis num palco, mas
disponíveis a todos, como qualquer um ali, de modo que a aura de intocáveis se
dissipe e as pessoas passem a vê-los como realmente são: indivíduos que Deus
dotou de um talento musical, e que usam esse talento para dirigir o louvor a
Ele. Simples assim.
Além
disso, há a questão da politicagem na Marcha dita para Jesus. Tal evento é palco
para todo o tipo de candidato, contanto que tenha acordado com as lideranças
eclesiásticas alguma forma de ajuda aos evangélicos. Assim, são distribuídos
“santinhos”, políticos falam no palco principal ou nos trios-elétricos, e os
fiéis têm seus votos negociados por suas lideranças, que “democraticamente”
indicam qual o candidato a ser votado.
Numa
verdadeira Marcha para Jesus, os políticos estariam bem longe, pois se o
objetivo é demonstrar o amor a Deus, não é possível se aproveitar desse evento
para exaltações humanas. Em Cristo somos livres, e livres até para, por nós
mesmos, refletirmos sobre o que é melhor para nossa nação. Com certeza, o melhor
não é aquele que beneficia apenas uma parte da população, mesmo que essa seja a
nossa. O melhor é o que busca beneficiar à maior quantidade possível de pessoas,
usando de justiça e não de conchavos do tipo toma-lá-dá-cá.
Uma
Marcha num local onde possa ser útil à comunidade; onde os líderes e os cantores
se confundem com a multidão, pois todos são, em Cristo, filhos de Deus e ao
mesmo tempo servos uns dos outros; onde as músicas remetem à adoração, com amor
e temor ao Deus Santíssimo; onde alguns não se aproveitam para ganhar dinheiro,
vendendo apetrechos gospel; onde o espaço de adoração não é dividido com
politicagem ou com a idolatria a líderes e artistas gospel.
Numa
Marcha assim, onde os que estão no “mundo” verão os evangélicos servindo e
adorando, creio que haveria campo para que muitos verdadeiramente se
convertessem a Cristo. Na Marcha como ela hoje é, o resultado final é apenas a
sujeira deixada nas ruas, que continuam vazias até o próximo dia útil, quando
enfim haverá ali algum movimento.
Em
outras palavras, hoje temos uma Marcha para a mídia ver, para demonstrar poder
de barganha com o “mundo” (realize os desejos da liderança, e em troca temos
toda essa multidão para lhe servir). Enquanto isso, esses líderes inescrupulosos
se comprazem com o “mundo”, que se compraz em agradar aos evangélicos para,
deles, conseguir o que quiser.
INCLUSIVE
SUAS ALMAS.
Será
que essa Marcha EXCLUSIVAMENTE para JESUS, conforme muitos sonham, um dia será
possível?
Nosso agradecimento a todos que participaram, do Movimento pela Ética Evangélica Brasileira e da Intervenção na Marcha. Que Deus abençoe a todos, e que Ele cresça e nós diminuamos.
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