sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Expressão Corporal no culto: tradição ou conformação?






Por Rev. Ronaldo P. Mendes 

“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”( Colossenses 3.16-17)

O problema que enfrentamos em qualquer leitura bíblica é o fato de olharmos para o texto com nossas próprias convicções, bagagem cultural e costumes ao em vez de deixar que ele próprio fale a nós. É o caso da questão da dança ou de outra expressão corporal, mas é necessário observarmos o que a Bíblia diz para a igreja e para cada um de nós sobre esse assunto.

I – Porque algumas inovações acabam entrando nas igrejas?


      
A) Por causa do abandono da Palavra de Deus de um modo geral.

Várias vezes Israel, o povo escolhido, abandonou as determinações dadas por Deus. E esse abandono levou Israel ao sofrimento. Tanto reis como sacerdotes e o povo em geral caíram em idolatria por abandonarem os preceitos de Deus.

B) Por causa do abandono da Palavra de Deus por parte da Liderança.
                     
Ler 1 Reis 15.1-3; 25,26; 16.25,26; 2 Reis 21.22. Estes textos nos mostram que a liderança tem sua grande parcela de culpa quando coisas que não pertencem genuinamente à igreja passam a fazer parte de sua prática. Por motivos pessoais, medo de perder poder, ignorância espiritual, incapacidade de administrar segundo o princípio estabelecido, e outros motivos fazem com que muitos líderes permitem práticas alheias aos ensinos bíblicos.

C) Por causa do abandono da Palavra de Deus por parte do povo.
         
Muitos dos reis de Israel faziam coisas erradas e o povo ficava satisfeito com tais atitudes e assim, afundavam-se junto com seus reis na idolatria deles. E então o castigo vinha (Dt. 32.21; Jr. 8.19; 18.15; Os 4.12).

II – fator cultura-época. Princípio bíblico e a dança.

A) A pergunta comum - “Mas não se dançava no Antigo Testamento?” E para tal pergunta só existe uma resposta “sim”, ter dança no AT não é o problema, o problema é que a pessoa que faz essa pergunta, normalmente está em posição contrária ao que vem sendo praticado em sua igreja local, e busca justificativa para mudar a prática, para introduzir danças no culto, ou mesmo em outras reuniões. Mesmo se aplicassem a forma de dança do AT, em nossos dias, seria algo sem lógica. Pensa-se que isso deixa a igreja mais “animada” e “atraente” para os irmãos e mais normal para os que ainda não foram alcançados pelo evangelho.

B) A dança no Antigo Testamento.
        
A dança no AT tinha objetivos específicos, tanto do ponto de vista cultural quanto religioso. Vemos, por exemplo, danças que nada tinham a ver com a vida religiosa de Israel.
       
1 – Danças apenas de cunho cultural, normalmente demonstrando alegria (Jz.21.21,23; Salmo 30.11;Jr. 31.4,13; Ec 3.4 Lc.15.25)

Por esses textos, pode-se perceber que a dança era algo presente na vida de Israel, como também na vida dos demais povos orientais. A Bíblia não nos mostra como era a coreografia, mas dá-nos entender que eram movimentos circulares em torno da própria pessoa, ou saltos para expressar grande alegria. Esta prática era comum entre o povo oriental, e na verdade era como uma segunda língua social. É preciso destacar que quanto a essas danças não há nenhum mandamento ordenando-as. Eram apenas manifestação cultural, dissociadas do culto.

2 – Danças apenas de cunho cultural, mas com alguma associação religiosa (Jr 31.4; 2Sm 6.14)

Estas danças também não foram realizadas em nenhuma cerimônia religiosa, contudo costumavam ser fruto de uma benção espiritual ou material que de modo muito claro representava uma realidade espiritual. O exemplo mais claro e mal utilizado é o caso de Davi (2Sm 6.14). Davi expressou a sua alegria com uma dança cultural diante da arca, que por sua vez era uma representação da presença de Deus no meio do povo. Mas isso foi um fato isolado e não uma prática ordenada por Deus.

3 – Danças de cunho religioso (Ex 15.20)


Esse tipo de dança tem pouca ocorrência, principalmente porque Deus não deixou nenhuma ordem específica sobre isso. No NT, Cristo veio para cumprir a lei e não anular. Ele trouxe clareza sobre a lei do Antigo Testamento e não encontramos nenhuma ordenança Dele a respeito da dança.


Muitas pessoas pegam o exemplo de Miriã para justificar as danças e coreografias nos cultos. Mas esse também é um fato isolado como no caso de Davi. Era simplesmente uma expressão de alegria com danças culturais. Pois, o destaque maior é dado no cântico de Moisés com forte ênfase na letra e não na música. Os textos de Miriã e de Davi, não servem de base para se colocar danças nos cultos.

III – o que fazer diante dos modernismos?

Chamamos de “modernismo” a dança e a coreografia, porque entraram nas igrejas há poucos anos, e não faz parte da história da igreja e nem da tradição reformada que seguimos. Mas o que fazer então?
           
A) Ensinar      

Não se deve fazer ou deixar de fazer alguma coisa sem explicação. Mesmo Deus quando faz suas ordenanças explica as consequências da obediência e da desobediência (Dt. 4.40). Então, a primeira coisa a se fazer é ensinar a igreja que ela precisa ouvir a Deus para aprender como adorá-lo. Um ensino correto da Bíblia orienta a igreja contra as falsas práticas religiosas.

B) Não permitir que valores ou interesses humanos superem o princípio bíblico.

Muito do que se tem visto de inovação, não tem melhorado em nada o culto, pelo contrário, tem contribuído para que a igreja perca suas características. A Bíblia tem de ser uma realidade, e não somente discurso, precisa ser a única regra de fé e prática, para que assim adoremos a Deus de modo correto.
          
C) vigilância
          
É preciso constante vigilância para que não sejamos pegos de surpresa. Esta vigilância deve partir dos líderes e dos membros da igreja. Temos que atentar para a recomendação de Paulo: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.”( Efésios 4.13,14).

Conclusão: Não temos nenhum motivo histórico ou teológico para admitirmos danças ou coreografias nos cultos. Devemos tomar cuidado não somente com esse problema, mas com outros pensamentos contrários a Palavra de Deus que podem fazer com que a igreja perca sua característica.

- Sobre o autor: Rev. Ronaldo P. Mendes é bacharel em teologia pelo seminário Presbiteriano Conservador de Riacho Grande -SBC - SP. Atualmente pastoreia a 6ª Igreja Presbiteriana Conservadora de Goiânia-GO. Casado com Janecléia Oliveira, professam a fé no único e verdadeiro Deus, Jesus Cristo o Senhor.



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